Merece o título?

Roberto Carlos, ícone da música brasileira e quiçá celebridade mundial, merece o título de rei?

Escuto o Robertão desde pequeno (meus pais sempre gostaram dele), mas fui me interessar e me aprofundar em sua obra durante a pandemia. Trabalhei algum tempo em home office, então era possível deixar uma música de fundo durante a labuta. Antes disso, ficava preso aos clássicos, aos especiais da Globo e aos lançamentos anuais que fazia, alguma música romântica naquela pegada de “se apertar, sai sangue”. Não vou nem entrar na discussão se são boas canções ou não, se agradam a tantos e o país o chama de “rei”, quem sou eu para criticar? Mas no geral, gosto das músicas dele. Não escuto a todo momento, mas as acho cativantes. E vou te contar um motivo pelo qual fui me dar conta recentemente.

Vagabundeando pelo Instagram, apareceu para mim um reels do Clemente Magalhães (@clemente_magalhaes) no qual ele conversa com o Rafael Dragaud (@rafaeldragaud). Nele, o Rafael fala que havia “sacado uma coisa” na obra do Roberto. Curioso que sou, assisti até o final e fiquei surpreso. Se trata de algo simples, mas que impacta na vida de todos, não só nas músicas do Roberto. Se tirarmos a música do contexto e aplicarmos em outras situações, é sucesso. Não tem como dar errado.

Mas Caco, o que é esse algo simples e complexo, raso e profundo que o Rafael sacou?

Pois bem, atiçado leitor, o Robertão escreve sobre o tête-à-tête. As músicas dele (90% delas, pelo menos) têm, quase que obrigatoriamente, “Eu e você” (ou a ideia de uma conversa entre 2 pessoas…) sempre na mesma frase. Deixo aqui alguns exemplos:

Depois me conta nos comentários se você leu ou cantou os versos, combinado?

“Como é grande, o meu amor, por você”/ Música: Como é grande o meu amor por você
“Você foi o maior dos meus casos, De todos os abraços, o que eu nunca esqueci” / Música: Outra Vez
“ Como vai você? Eu preciso saber da sua vida” / Música: Como vai você
“Jesus Cristo! Jesus Cristo! Jesus Cristo, eu estou aqui” / Música: Jesus Cristo

Ainda não acredita, ó, incrédulo legente? Faça você, por conta e risco, a sua própria busca — o padrão estará lá. Como escrevi na minha última publicação, dá trabalho pesquisar e elaborar um texto para vocês com informações legítimas e fidedignas. Eu pesquisei. Se achar alguma que não tenha esse molde, me conta também nos comentários.

Sou filho de Deus, uma pessoa comum. Às vezes, muito raramente mesmo, eu erro (esta sentença está recheada de ironia e contém altas doses de sarcasmo).

O Roberto escreve as músicas sempre em primeira pessoa, e isso faz com que o ouvinte se aproprie da música. Com elas, conseguimos criar um repertório a ser usado nas mais diversas situações amorosas, ou não, e isso é sensacional. Confesso que, quando vim com essa ideia de voltar a escrever, de uma certa forma, é isso o que almejava. Sei que não sou o único que passa pelas mais diversas situações e vivências. E compartilhando as minhas experiências, é uma forma de dizer aos que se identificam com as peripécias deste que vos escreve: hei, você não está sozinho!

Longe de me comparar a ele, mesmo minha falsa modéstia nunca me permitiria a algo dessa magnitude. Roberto Carlos faz isso também. Se é intencional ou não, somente ele para responder.  Sei também que ele não foi o primeiro, e nem será o último, a utilizar tal sistema. Cantores, principalmente os do sertanejo e do pagode, tentam isso a todo momento, porém sem a mesma excelência e eficácia do Roberto (minha opinião, OK?). Mas vamos deixar os achismos e questionamentos um pouco de lado, escutar e aproveitar suas músicas, agora com um novo olhar sobre elas. E admitir que ele executa com maestria o que se propõe a fazer.

Roberto é sagaz, é rock, é pop, é romântico sem ser brega e sexy sem ser vulgar. Para mim, Roberto Carlos é rei!