Hora um

24 de abril de 2024 - Categoria: Artigos, Filosofia Barata, Humor, Imaginação, Inspiração, Novidades

A TV preenche silêncios que a madrugada traz. Esta crônica é sobre os rostos familiares que nos acompanham quando o mundo dorme — e o vazio estranho que fica quando eles desaparecem.

Certa vez li uma reportagem que explicava o motivo dos apresentadores de TV avisarem, ao final dos programas, quando estarão de férias ou ausentes do trabalho. A princípio, achei estranho, mas, após refletir um pouco, achei intrigante. E depois de uma análise mais profunda, vi que reflete, em parte, o imediatismo dos dias atuais.  

Por outro lado, é engraçado pensarmos nisso, uma vez que não pagamos seus salários e eles não nos devem nenhuma satisfação sobre o que fazem ou deixam de fazer. A não ser pelo fato de que entram em nossa casa todos os dias, nos mesmos horários, e acabam — sem querer, querendo — fazendo parte das nossas vidas. Sabe aquele hábito de responder ao Boa noite do apresentador quando ele encerra o jornal? É sobre isso que estou falando. 

No período em que estive me recuperando do acidente que sofri (falei brevemente dele nesse texto: 40entado), acamado, a minha principal atividade era assistir TV. Logo me cansei da repetitiva programação dos canais a cabo e de streaming, e passei a assistir à TV aberta. Foi a minha salvação. A programação variada, alternando os tipos de programa, fazia o meu dia voar. Acordava e ligava o aparelho por volta das 5h da manhã, horário esse em que todos da casa estavam dormindo. Não tinha com quem conversar, nem para dar um bom dia, a não ser para a apresentadora do programa Hora Um, que assistia religiosamente. Aos finais de semana, o programa não era exibido, e confesso que sentia falta da companhia naquele horário. Aconteceu comigo. Gosto de me usar como exemplo, para não dizerem por aí que estou apenas supondo ou viajando na maionese. 

Talvez não tenhamos consciência do quanto a TV faz parte da nossa vida. E as pessoas que trabalham nela também. Para uns menos, para outros mais. Além de trazer informação e entretenimento, ela faz companhia a muitos. Mais do que podemos imaginar. E quando um apresentador avisa que ele não estará lá amanhã, é uma forma do telespectador se sentir preparado para uma mudança, se sentir confortado, por saber o motivo da ausência. Assim como eu, que sabia que reencontraria a apresentadora na segunda seguinte, após o final de semana. 

Como consequência da revolução tecnológica que vem ocorrendo nos últimos anos, temos a necessidade de ter (e dar) informações a todo o momento. Tanto que, para alguns, ficar o dia todo sem responder um ZAP, ou mexer no Insta, é uma conquista digna de prêmio. São poucos os que conseguem. Aquela velha história de apreciar com moderação não existe para as redes sociais. Buscamos sempre uma overdose delas. E antes que me critiquem, me incluo nesse balaio. 

Ah, mas e o motivo pelo qual avisam quando saem de férias ou não irão apresentar o programa? De uma forma rápida, rasteira e direta: para não ter nenhuma amolação nas redes sociais, de telespectadores perguntando se aconteceu alguma coisa.

E aí, sabiam dessa?  

Mais um caco espalhado por aí…

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2 comentários

Comentários

  1. Simar disse:

    Concordo com teu comentário. Meses atrás tive um problema com a televisão e fiquei quase uma semana sem. My God! E olha que não sou um fanático. O que salvou foi a internet. Mas olhar as coisas naquela telinha, na minha idade…

    1. admin disse:

      É verdade, apenas damos valor nas horas difíceis, certo?

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