Bar, doce bar

13 de março de 2024 - Categoria: Artigos, Filosofia Barata, Humor, Inspiração

Nighthawks, de Edward Hopper

“Nem sempre o lar tem sofá e parede. Às vezes, tem balcão, cadeira bamba e alguém pra dividir a próxima rodada. Esta crônica é um brinde à saudade dos bares que nos fizeram casa.”

Nostalgia mode on. Se você é sentimental e se emociona facilmente, recomendo fortemente que vá pegar uma caixa de lenços, pois grandes emoções estão por vir.

“Aqui ZYD, 838, canal 284, Rádio Progresso II FM 104,7 MHz, 50 mil watts de potência, transmitindo de São Carlos/SP…” Reconhece esse tipo de chamada? As rádios sempre a faziam. Como há muito tempo não sintonizo nas estações AMs e FMs não sei se ainda é utilizada, mas acredito que sim. Esse texto não é para falar de rádio ou música, apesar desses 2 assuntos estarem diretamente ligados à inspiração para essa declaração de amor. Sim, você leu certo, esse texto é uma declaração de amor. Hoje vim aqui com a intenção de relembrar o bar ZYD, que teve momentos inoxidáveis na cidade de São Carlos/SP, numa das esquinas da rua 28 de setembro com a São Joaquim. E também lembrar dos queridos Betão e Nelson, seus proprietários.

Beto, um ex-radialista, engraçado e imitador do Scooby-Doo, com Nelson, contador de piadas e que na época trabalhava numa operadora de planos de saúde, decidiram montar um bar. E esse bar fez história. Em minha modesta opinião, foi o melhor que São Carlos já teve. Se não me engano, e eu sempre posso estar enganado, o bar iniciou suas atividades no ano de 2000. Fui lá desde sua apoteótica inauguração até sua derradeira despedida da noite São-carlense. Apesar dos lapsos de memória em relação às datas, tenho ótimas recordações das pessoas e dos momentos que vivi lá (em tempo, Beto foi empresário da banda Carrão-de-Gás, de uns amigos/irmãos meus. Acho que foi assim que o conheci. Nelson conheci no bar).

Sempre se formavam filas com clientes ansiosos e sedentos para aproveitar ao máximo o que o bar tinha a oferecer. Como eu era, de certa forma, cliente VIP, para mim essas filas não existiam. Era só chegar na entrada que o segurança, um gigante gentil de 2m de altura sempre muito atencioso (infelizmente não lembro o nome dele), já me cumprimentava com um sorriso largo, um sonoro “Boa Noite, Caco!” e abria a portinhola para que eu pudesse adentrar naquele que era um santuário de júbilo e regozijo. Isso era o suficiente para deixar os outros clientes bravos e irritados, pois não entendiam o porquê de eu ter passe livre. Se eu estivesse no lugar deles, também não veria com bons olhos.

Atrás do balcão ficava o André, barman sorridente e sempre muito solícito. Durante o período em que morei em Piracicaba, voltava para São Carlos toda sexta, por volta das 17h, e em inúmeras vezes parei direto no bar, antes mesmo de ir para casa. Betão e Nelson já estavam por lá, terminando de organizar as tarefas para a abertura do ZY (apelido carinhoso). Me acomodava no balcão, tomava uma cerveja Original gelada e conversávamos sobre assuntos aleatórios, acompanhados sempre de muita música boa, geralmente um rock, flashback ou blues.

A noite estava apenas começando e lentamente os amigos vinham chegando, um a um, ao nosso QG, o nosso ponto de encontro. Dei muitas risadas escutando as aventuras da época de rádio do Betão, muitas gargalhadas com as piadas sem graça do Nelson, tomei muita cerveja e joguei muita conversa fora naquele balcão. Por volta das 23h30 — lembrando que eu estava lá desde as 17h, antes da abertura do bar (!) — rolavam shots de tequila e a saideira, para sinalizar que o esquenta havia acabado e era hora de ir para o Café Cancun, dos meus também queridos amigos Adriano e Humberto.

Lembro também do Brandão, o gerente do bar. Dos garçons, lembro dos rostos, mas não lembro dos nomes. Culpa da cerveja e da tequila. Mas eram todos sempre bem-humorados, educados, pacientes (a turma dava trabalho!) e prontos para atender a todos da melhor forma possível. Nunca fui um entusiasta de bares, sempre preferi baladas, mas o ZYD é um bar que me dá saudades.

ZYD, meu bar, doce bar. Como tudo na vida, o seu ciclo se fechou e teve suas atividades encerradas. Mas deixou para sempre boas lembranças e amizades, sinceras e queridas.

“E alguma coisa ainda acontece no meu coração, sempre que passo por aquela esquina, lembro do ZY, do Nelson e do Betão…”

 

 

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